Filho que pediu absolvição do pai por compaixão à avó diz que condenação na Justiça apenas aumentaria dor: 'Está pagando os pecados em vida'

  • 24/10/2025
(Foto: Reprodução)
Homem que tentou matar o filho é absolvido após apelo da própria vítima Vítima de tentativa de homicídio, o homem de 30 anos que pediu a absolvição do pai à Justiça após um pedido de clemência contou ao g1 que agiu movido pelo desejo de evitar mais sofrimento à família. Segundo ele, uma condenação só aumentaria a dor da mãe do réu, que é sua avó, uma mulher de 80 anos. "Quando o Ministério Público entrou em contato comigo, perguntei se teria alguma forma de ele não ser condenado, por tudo que aconteceu em nossas vidas, sempre muito conturbada por causa do vício do meu pai. Não queria que mais uma vez a minha avó sofresse" , revelou Guilherme Santos do Amaral (saiba mais, abaixo, da relação entre pai e filho). 'Clemência pela mãe': entenda juridicamente a decisão O júri, que ocorreu em 16 de outubro, em Porto Alegre, terminou com a absolvição de Jani Francisco do Amaral, 58 anos, por quatro votos a dois. A defensora pública Tatiana Boeira, amparada no pedido do filho, apresentou aos jurados o argumento de clemência, de caráter humanitário e não jurídico, considerado pouco usual. "O réu, durante o curso do processo, teve um AVC, está na cadeira de rodas, sem movimentos e usando fraldas. Durante o julgamento, a mãe do réu, de cerca de 80 anos, veio empurrando a cadeira de rodas dele, numa cena emocionante. Eu pedi clemência pela mãe do réu, que não merecia passar por mais um problema na vida", disse a defensora pública. O Ministério Público (MP) pediu a condenação por tentativa de homicídio qualificado, por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, mas foi voto vencido. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp Relação com o pai Filho pediu clemência à Justiça, por compaixão à avó, para que pai não fosse condenado no RS Arquivo pessoal Filho mais velho de quatro irmãos, Guilherme revelou detalhes da relação com o pai. Segundo ele, Jani, que trabalhava como motorista, era dependente de álcool e de drogas — situação que o levou a vender objetos da casa para sustentar o vício. A tentativa de homicídio ocorreu em julho de 2017, após uma discussão entre pai e filho durante uma crise em busca de drogas. "Ele tinha saído com um prato refratário dentro da calça, que na noite anterior tinha trazido três panquecas para jantar.  Eu vi e tirei dele, falei algumas coisas do tipo de ele ir roubar na rua e não dentro de casa.  Ele entrou, passou por mim e puxou o facão. A gente entrou em luta pelo facão e ele me cortou no braço e nos dedos. Tomei uns 30 pontos". Guilherme e o pai voltaram a se aproximar perto do aniversário de 28 anos dele, período em que Jani estava afastado das drogas e o filho havia acabado de se tornar pai. Foi nessa época que registraram uma das poucas fotos juntos — os dois, sorrindo, abraçados (veja acima). Enquanto respondia ao crime, Jani teve um AVC e atualmente é cuidado pela mãe, a avó de cerca de 80 anos com a qual Guilherme se preocupa. "Tenho convicção de que ele tá pagando os pecados dele em vida. Eu, hoje em dia, tenho filhos, família e tento ser um exemplo pra eles, tento ser tudo que meu pai não foi pra mim. E tento não demonstrar pros meus filhos o quanto a vida pode ser complicada", concluiu o homem, que trabalha como motorista de aplicativo em Porto Alegre. O julgamento De acordo com os autos do julgamento, a briga entre pai e filho aconteceu em julho de 2017 no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre. Guilherme, que tinha 22 anos à época, sobreviveu após receber atendimento médico. No interrogatório, o pai negou ter agido com intenção de matar e afirmou que queria apenas assustar o filho, alegando ter usado a parte "de trás" da lâmina. Ele chegou a ficar preso por sete meses, entre agosto de 2017 e março de 2018. Durante o julgamento, a vítima foi intimada, mas não compareceu. Em contato com o MP no dia anterior, disse que não gostaria que o pai fosse condenado. A defesa pediu que os jurados julgassem pelo "direito de perdoar". A juíza autorizou que o quesito genérico da absolvição fosse apresentado antes dos demais — a pedido da Defensoria e sem objeção do Ministério Público. Os jurados votaram pela absolvição, e o réu deixou o plenário em liberdade. Na sentença, a magistrada registrou expressamente que a decisão se deu "acolhendo a tese defensiva de clemência". Para a defensora Tatiana Boeira, a absolvição representa um exemplo de justiça restaurativa. "O jurado pode absolver alguém por um motivo não jurídico. Nesse caso, a família agora está estruturada. O réu, inclusive, foi cuidado pelo filho após o AVC. A condenação não fazia mais sentido, não faria mais justiça do que a absolvição como foi feita", afirmou. Tese incomum O advogado e professor de Direito Aury Lopes Jr. afirmou que absolvições em que a única tese da defesa é a clemência "não são comuns, mas são aceitas dentro das possibilidades oferecidas no júri". "No júri, as teses mais comuns são legítima defesa, negativa de autoria... Agora, considerando que os jurados julgam de capa a capa, sem precisar fundamentar, há a possibilidade de trabalhar com uma tese metajurídica como essa — de conceito aberto de justiça, de clemência, de piedade. Os jurados são soberanos para julgar e podem absolver alguém por clemência, uma tese não jurídica, ainda que ela tenha limite", explicou. Tribunal de Justiça do RS Divulgação/TJRS VÍDEOS: Tudo sobre o RS

FONTE: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2025/10/24/filho-que-pediu-absolvicao-do-pai-por-compaixao-a-avo-diz-que-condenacao-na-justica-apenas-aumentaria-dor-esta-pagando-os-pecados-em-vida.ghtml


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